"Mas, qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que crêem em mim,
melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho,
e se lhe atirasse ao mar."
(Mateus 18:6)
Há alguns anos, estive no Tribal Generation, um fórum que reúne os que dedicam-se a buscar com a mensagem e o testemunho do evangelho, o pessoal da geração chamada emergente.
Foi em Uberlândia-MG. Muita tribo reunida, muita emoção da minha parte ao ver gente maluca de toda espécie - maluca por Jesus e por gente. Gente de todo tipo. Gente que precisa Dele. E que, apesar da nossa velha expectativa religiosa (e preconceituosa), na maioria das vezes, mudada pela cruz, é transformada completamente, mas só por dentro. Por fora, geralmente, contrariamente do que o nosso farisaísmo podia esperar, continuam os mesmos - nos cabelos, nas roupas e adereços, rigorosamente iguais.
Pois foi ai, em meio a muita coisa de Deus no meu coração, no confronto com essas minhas ideias menores, ridículas que ainda teimavam em estar nos cantos escondidos da alma, é que me encontrei com duas ex-ovelhas, do tempo em que pastoreei uma comunidade que se reunia num velho cinema do centro da cidade.
Deviam cada uma, estar já na casa dos 70, 70 e poucos anos. Mas, não tivesse eu uma memória fotográfica - coisa de cartunista - não as teria reconhecido.
Cada uma, vestidinha de preto, dos pés à cabeça, bijouterias esquisitas e pasme, com bandanas pretas a cobrirem os cabelos nevados.
Na hora, eu deixei soltar aquela clássica, fruto do inusitado da cena: "Até vocês, minhas irmãs? O que é isso? Que roupas são essas?"...
Tente imaginar a cena e o meu espanto, diante de duas senhoras, exemplos de oração e dedicação piedosa, duas senhoras septuagenárias, na acepção do termo. Ali, diante de mim, duas malucas, passadas do tempo, com correntes e tudo à volta da cintura.
Na hora, explicaram-me rapidamente as duas, com toda a autoridade que os céus lhes dava: "Rubinho, pastor amado, estamos assim porque vamos receber pra um concerto aqueles jovens malucos do Death Metal, e não queremos de maneira nenhuma escandalizar os meninos!"
Tai ai. Naquela noite tive - pela primeira vez na minha vida - ouvido no mais estrito senso bíblico que, creio, Cristo havia utilizado para defender os pequenos, os que mais necessitados e distantes estavam da mesa farta da graça de Deus.
Até aquela tarde, só tinha ouvido a aplicação dessa palavra, no lado oposto, como um escudo farisaico contra pessoas, para resguardarem um limite de intolerância e preconceito. Algo usado para proteger gente que, como crente, madura, velha de casa, devia mais era ter misericórdia e força suficiente para rebaixar-se à estatura dos perdidos e débeis na fé, para servi-los apresentando-lhes o amor do Pai. E não o contrário.
Desde há muito, ouvira esse: "Cuidado para não escandalizar", para proteger gente que já devia ter maturidade suficiente para flexionar-se à estatura dos mais novos.
Escândalo, cara, é fazer algo, é portarmos-nos de modo a impedir as pessoas de virem a Cristo. Aplicado a crente, escândalo nada mais é do que frescura.
Aplicado à crentes maduros é incentivar a intolerância, o preconceito e o fechar-lhes a guarda em torno das suas preferências, manias e gostos.
Cristo nos chama hoje a despirmos-nos dos nossos cômodos escudos de proteção contra os outros, daquilo que fazem de nós pedra de tropeço à aqueles que querem vir a Ele. Como aliás, Ele fez, despindo-se que tudo o que possuía no céu e vestir-se dessa roupinha ridícula, sensível, frágil, de humanidade.
Estamos prontos a abrirmos mãos de nós mesmos pelos outros? Até que ponto estamos dispostos a ir para não os escandalizarmos?
Nessa tarde, lembrei-me da lição daquelas duas malucas lindas e amadas da minha terra. E orei pra que nunca percam esse amor e elasticidade no irem até aos pequenos.
Nada mais radical e maluco!
Fonte: Genizah